Olá caros amigos,
É frequente a expressão "já não". Com esta expressão experimento sentimentos confusos de um "já, mas ainda não". Aquele sentimento teológico que nos mostra a caducidade do presente e a demora do eterno. "Já não passaremos estas pedras" outra vez. Os passos dados de cada dia são passos arrumados para sempre no trilho de um tempo que nunca mais voltará a ser e que levará consigo as pedras pisadas na dor de cada entrega. Parece doloroso o sentimento escondido nas palavras do "já não", porque sabem a passado e irrecuperável. Estas palavras, porém, abrem-se a um novo presente e despertam um futuro que não veio, mas virá. Um futuro que só virá, se este presente de passos dados sobre as pedras que "já não passaremos", se for desmaterializando para sempre, no nunca mais de cada passo. É de passos e de pedras que se faz a vida no passado e é entre pedras e ao ritmo de cada passo que se abre o futuro que é "ainda não" de esperança e vontade. Os passos da vontade nascem da esperança de que as pedras facilitem o já cansado andar de todas as desventuras. Quisera fazer de todas as pedras um presente continuado de entregas em mão a cada instante, mas não me é permitido segurar entre as mãos as pedras que piso ao andar. Nem posso reter em mim os passos magoados de um tempo que se foi. Só posso ter o que dizendo ter, já não tenho, porque já foi, já não é, já não posso passar pelas pedras que passei. Apenas a esperança me diz que sim, que vale a pena o doloroso e escuro caminho do presente, até que tudo se abra em luz definitiva no eterno “já” presente, quando o "ainda não" se tornar definitivamente “já”. Será que demora?
Abraços: romáriioallencar
