domingo, 13 de julho de 2014

Vidas de apagar


   De inventar histórias se faz a vida. Histórias feitas de vidas. Vidas feitas de histórias. Histórias de fazer crer. Vidas de histórias feitas e repetidas nunca se enganam. Histórias escritas à mão em sebentas para apagar e que nunca se apagam para não borrar. 
  Quem tenta apagar acaba pior. Apagar histórias não é viver. Viver é escrever à mão em papel de sebenta, histórias vividas de fazer crer. Sebentas de vidas nunca apagadas ou borradas de apagar para ninguém ver. Sebentas borradas de histórias vividas. Sebentas escritas à mão. Histórias de histórias contadas, nunca apagadas, nunca sabidas. Histórias lidas em primeira mão, a mão que as escreve, a mão que as conta, a mão que as apaga sem deixar nada, apenas borrão. Histórias borradas em papel de sebenta nunca me enganam. Histórias de vidas lidas, relidas, dadas em olhares invertidos que olham bem dentro, no papel de sebenta que é esta vida tão mal embrulhada. Vidas de inventar. Histórias de apagar. Sebentas de histórias.     Vidas de olhares invertidos mal embrulhadas em papel de sebenta escritas a lápis para não se apagar. Vidas de fazer crer que ainda há histórias de sebentas escritas, que ainda há escritas a lápis sem nada borrar, que ainda há olhares que contam histórias, que ainda há vida para lá do olhar que se vê por dentro antes de apagar. Vidas...

Por: Romário Allencar