quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

' Respirar


Caros amigos,
Sinto uma vontade incontrolável de respirar. É como se a alma estivesse vazia e incapaz de acolher o ar fresco que lhe é oferecido, por pura incapacidade. Perceber a força do ar e a sua qualidade e não ser capaz de captar tanto quanto é oferecido é já um sintoma de infeliz pequenez de alma. Mas sem poder captar o mínimo de ar puro que a alma necessita para viver é a infelicidade por si mesma a minar as entranhas do ser. Esta vontade de respirar revela ainda mais a minha incapacidade. Quanto maior é o esforço mais aumenta a angústia de o não poder acolher na máxima potência. Percebo como é duro fazer esta experiência interior do vazio e sei também como é difícil iniciar a alma na função imprescindível de respirar do ar mais puro. Iniciar-se na respiração da alma é passar pela experiência da pobreza, da incapacidade, da inadaptação. E ver como ao nosso lado outros com menos capacidades respiram a plenos pulmões sem a mínima dificuldade e o fazem com o entusiasmo de quem se sabe feliz e no orgulho de quem escolheu a melhor parte. Iniciar a alma na arte da respiração é uma missão ingrata que começa por revelar os venenos com que nos intoxicámos durante anos e de como desses venenos nos vem a morte aos poucos. Mas é também a consciência plena ainda que tardada de que não há outro caminho para a vida senão a desintoxicação da alma pelo ar pura da consciência renovada e do olhar purificado. Respirar é o mais elevado exercício de que a alma necessita no início deste novo dia.

Romário Allencar :)