terça-feira, 23 de março de 2010

Uma lágrima


Uma lágrima é uma lágrima.

Pode parecer insignificante, mas uma lágrima é uma lágrima.
Uma lágrima tem a força da vida, o poder do coração, a certeza do amor e da dor. Uma lágrima é um sinal profundo, indelével mesmo de pertença. Uma lágrima nunca é orfã. Uma lágrima, uma só que seja, tem dono, tem mãe tem pai, tem família. Uma lágrima tem razão. Mesmo quando a razão diz que não à própria razão, a lágrima tem sempre uma razão. Uma lágrima tem poder. O poder de existir, de ser ou não ser, de querer ou não querer, de estar ou não estar. Uma lágrima é resistência. Aguentar até para além do limite, para além da lágrima, de lágrimas corridas, irmãs gémeas da tormenta que faz transvasar rios e mares. Uma lágrima é um tesouro que não se consegue guardar. Um tesouro de amor, de entraga, de dádiva. Um tesouro de bem querer, de velar e orar. Uma lágrima nunca se perde, sempre se dá. Uma lágrima é uma vida. Uma lágrima é uma vida inteira. Uma lágrima não se pode evitar, nem pode deixar indiferença. Uma lágrima nunca pode cair ao chão. Não pode haver lágrimas que caem ao chão. Não pode haver chão para as lágrimas. A lágrima do homem, da mulher ou da criança. A lágrima do pobre do rico ou do indigente. A lágrima do doente, do só ou do abandonado. Uma lágrima é demasiado preciosa para cair ao chão.
Homens e mulheres, apanhadores de lágrimas precisam-se com urgência. Homens e mulheres que esquecem as suas lágrimas para apanhar outras lágrimas, precisam-se com urgência. Homens e mulheres que unem lágrimas às lágrimas dos outros precisam-se com urgência.
Porque uma lágrima nunca pode cair ao chão.

Alguém apanhe esta lágrima.

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